
Ampliação de acessibilidade no audiovisual é tema de debate promovido por Cinema da Fundação e Sesc
A equipe do Cinema da Fundação desembarcou no Sesc de Casa Amarela, na terça-feira (23), para proporcionar uma tarde de lazer e de importantes debates sobre acessibilidade com um grupo de pessoas com deficiência formado por moradores da Zona Norte e Oeste do Recife.
A atividade, que faz parte do acordo de cooperação entre o Sesc e a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), teve início com uma visita de pessoas cegas às instalações do Sesc. O grupo conheceu a área da galeria de arte, a piscina, a quadra poliesportiva e a lanchonete. Algumas das participantes, inclusive, se divertiram saltando amarelinha.
“A ação fez parte dessa itinerância dos acervos da Cinemateca Pernambucana, e Projeto Alumiar, da Fundaj, dentro do Sesc. Fizemos essa sessão acessível, conectando pessoas do entorno, trouxemos um grupo do Cordeiro e outro de Casa Amarela. É importante conhecermos as pessoas com deficiência do entorno. Por isso, não fomos só ao cinema, mas conhecemos as instalações e os serviços que o equipamento oferece”, explicou Túlio Rodrigues, da equipe do Cinema da Fundação.
Após este primeiro momento, a principal atividade da tarde teve início. Foi exibido no Cine Sesc Coliseu o filme Além da Lenda, de Marcos França e Marília Mafé, que traz o folclore brasileiro para a tela de cinema em forma de animação.
O longa contou com duas modalidades de acessibilidade comunicacional: Audiodescrição (AD), para pessoas cegas ou com baixa visão; e Língua Brasileira de Sinais (Libras) para pessoas surdas.
Ao fim da exibição, Túlio Rodrigues e Yastricia Santos (Intérprete), da equipe do Projeto Alumiar de Cinema Acessível, da Fundaj, mediaram o diálogo com os presentes sobre a importância da ampliação da acessibilidade no audiovisual como um todo.
“Essa conversa é super importante. Realizamos hoje essa sessão acessível seguido de discussão sobre o cinema de animação e acessibilidade. É preciso pensar como ela pode se adequar dependendo do produto. A acessibilidade para um filme de animação é diferente da construída para outro filme, tem outra estética. Então, é a acessibilidade a serviço do que ela media e é o usuário final que avalia esse trabalho”, destacou Túlio.
Durante a discussão, os participantes puderam expor demandas de acessibilidade que visam melhorar a experiência. Foram abordados pontos como o tamanho da janela de Libras, que em determinados momentos pode cortar um determinado gesto importante do intérprete, a necessidade de um cuidado com som da audiodescrição e dos personagens do filme para que estejam equilibrados, entre outros.
Além disso, o grupo lamentou que programas de maior audiência no país não possuam diversas modalidades de acessibilidade e relataram dificuldade para encontrar filmes nos serviços de streaming que possuam acessibilidade comunicacional.
“Ao assistir o longa, que é pernambucano, percebi o quanto foi trabalhosa a produção desse filme. A acessibilidade como sempre é um meio muito importante para a gente, não só a Libras, mas a legenda que tem alguns surdos que sabem da Libra e outros que não sabem bem do português da legenda, por isso os filmes precisam das duas para a acessibilidade ser mais completa. Foi importante essa parceria do Sesc com a Fundação para que possamos vir ao cinema, somos de Casa Amarela, foi um acesso importante”, destacou Tatiana Martins, que é surda. Hoje, ela é coordenadora do curso AnimaLibras e convidou os presentes para conhecerem o trabalho realizado pelo CAS – Centro de Apoio ao Surdo, no Recife.
Desde que perdeu a visão, há cerca de dois anos, o motorista Eduardo Nicácio nunca tinha acompanhado a exibição de um filme com acessibilidade. Ao sentir a experiência, ele cobrou a ampliação do serviço para pessoas com deficiência. “Estou super satisfeito, pela primeira vez tenho essa oportunidade. Ouvi os comentários e algumas queixas dos companheiros e não comentei, pois ainda não tenho experiência, mas espero que se amplie o cinema acessível para as pessoas que realmente precisam”, afirmou.
Supervisora de Cultura do Sesc Casa Amarela nas linguagens de Audiovisual e Música, Rayssa Soares explicou que ações de acessibilidade foram pensadas desde o início da produção do projeto Anima Sesc.
“A ideia é aproximar diversos públicos das nossas ações de audiovisual, principalmente o público das redondezas. Desde que pensamos nessa mostra, colocamos isso como meta, ter mais de uma ação acessível. Tivemos ação com Mundo Bita, um curta com acessibilidade e um show e, agora, com a exibição de Além da Lenda. É importante essa acessibilidade presente nas nossas programações até por ser uma diretriz nossa tornar acessível nossas ações e ter esse público não somente como espectador, mas trazê-los para dentro, para que sejam, também, os artistas dessas ações. É algo que começamos a desdobrar”, concluiu Rayssa.