
Premiado documentário “Corpolítica” tem noite de pré-estreia e sessão debate no Cinema da Fundação, neste sábado (3)
Melhor Documentário no Queer Lisboa e no Festival do Rio, o longa “Corpolítica” chegou aclamado à sala Museu do Cinema da Fundação para uma exibição especial, neste sábado (3). Com sala lotada, a exibição do filme foi seguida por uma sessão debate com a presença do diretor do documentário, Pedro Henrique França, mediação do historiador Jones Manoel, e a participação da advogada Robeyoncé Lima e do vereador Vinicius Castello. O público pôde acompanhar durante a sessão a narrativa do longa que investiga a representatividade LGBTQIA+ no cenário político do Brasil, diante de um recorde de candidaturas da comunidade nas eleições municipais de 2020.
Antes do início da sessão, o coordenador do Cinema da Fundação, Luiz Joaquim, comentou sobre o documentário. “Vocês estão prestes a ver um filme envolvente, inquietante e necessário. A gente busca com esse debate uma provocação que enriqueça o papo sobre a representatividade LGBTQIA+ na política”. Após o término do filme, o público foi contemplado com uma roda de diálogo que contou com a presença dos três debatedores que intencionavam, com seus corpos políticos, ocupar cargos de poder na eleição do ano de 2022 em Pernambuco.
O diretor Pedro Henrique França abordou a necessidade e urgência de produções audiovisuais como essa no contexto contemporâneo. “Esse filme nasce a partir de um recorde de candidaturas LGBTQIA+ em 2020 e investiga sobre esse vazio de por qual motivo ainda somos tão poucos na política brasileira. Quais cenários que possibilitam ou interditam esses corpos a ocuparem esse espaço”, disse o cineasta. “É uma convocação ao despertar político, precisamos estar sempre atentos e fortes”.
Eleito vereador de Olinda em 2020, o advogado e vice-presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB-PE, Vinicius Castello, deu sua contribuição ao debate afirmando como é difícil sua posição de se reconhecer enquanto um corpo da comunidade LGBTQIA+ e precisar se colocar numa vitrine de exposição. “Nós temos nossos medos, anseios e é completamente desafiador enfrentar um processo eleitoral onde já sabemos que existem diversas pessoas que nos desumanizam e não nos reconhecem como potência”, confessa Vinicius Castello.
A advogada e vice-presidenta da Comissão da Verdade sobre a Escravidão Negra da OAB-PE, Robeyonce Lima, teceu algumas reflexões sobre a representatividade LGBTQIA+ na política brasileira, desvelando uma longa luta da comunidade que está longe de ser recente. “Me senti muito tocada enquanto assistia o filme, pois muitas vivências ali ressonaram com a minha história”, revela a advogada. “O que chamou muito minha atenção em Corpolítica, também, é a questão da interseccionalidade. A pauta LGBTQIA+ tem várias representações, e existe um perigo imenso em colocar esse grupo como algo único, com o mesmo pensamento, pois o nosso fazer político é plural”.
O mediador da conversa e historiador, Jones Manoel, ainda desvela a dificuldade, ao concorrer a cargos de poder, em ocupar vários espaços, onde não há um exército de cabos eleitorais, por exemplo. “Como a gente vai dar mais conteúdo para essa representatividade e deixar de ser a minoria da minoria dentro do espaço político é um questionamento válido e que o filme busca investigar”, finaliza o historiador.